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Archive for the ‘Definitely Maybe – Oasis’ Category

texto de Rodrigo Levino (@rlevino)

Em 30 de agosto de 1994, quando o Oasis lançou o disco Definitely Maybe, eu morava numa cidade do interior, distante 300 quilômetros da capital mais próxima, onde não havia loja de disco, cinema ou livraria. Na única banca de revistas do lugar, a Bizz costumava aparecer a cada dois meses, o que me fez crer, até conhecer e me tornar amigo, que o Pedro Só estava morto. Impossível que alguém que eu lia durante a adolescência, no fim do mundo, pudesse estar vivo, eu pensava.

Aos doze anos de idade, em qualquer lugar do mundo, o mundo é mau, você é feio, culpado e vítima por qualquer fracasso num raio de 15 metros. Em Caicó, interior do Rio Grande do Norte, isso era agravado pela média de 37 graus o ano inteiro. Reflitam.

A única lufada de civilização acontecia na viagem anual a Natal, durante o verão. E foi numa dessas que a minha vida virou da ponta-cabeça. No fim da infância, um tio, o louco da casa, tinha me apresentado Beatles e Kiss e o mundo deu uma virada. Mas a força daqueles discos se diluiu na formação radiofônica a que fui submetido. Na rádio FM da cidade se ouvia MPB, forró e uma pá de música brega dos anos 1970. Então, eu cantarolava Caetano Veloso e Fagner na mesma sintonia de Odair José e Agepê.

Foi assim até que, sete meses depois de chegar às lojas o melhor disco de estreia da história – aceite –, encontrei numa das viagens a Natal um amigo recém-chegado da Disney exibindo eletrônicos ruidosos, jaquetas pavorosas do Hard Rock Café e, no meio de uma pilha de discos de coisas como Ace of Base, Hathaway e Coronna, um Definitely Maybe, do Oasis.

Roubei-o e por esse delito jamais senti culpa. Aquela capa me pareceu muito estranha, com um quê de deprimida, um sujeito deitado no chão de uma sala esverdeada. “É rock, muito doido!”, ele disse.

Eu poderia escrever laudas e laudas, fazer um faixa a faixa, falar dos riffs, fraseados e solos (aprendi todos quando comecei a tocar guitarra), mas vou te contar: ser adolescente é o fim da vida e só um grande disco de rock pode fazer você se sentir vivo.

Sendo, como é típico da idade, uma variação de Holden Caulfield e Mark Twain, a coisa mais libertadora que eu podia ouvir naquele fim de mundo era Liam Gallagher engolindo sílabas e berrando “I live my life in the city / There’s no easy way out / The day’s moving just too fast for me”.

Com o headphone atolado nos ouvidos, “Live Forever”, “Up In The Sky”, “Supersonic”, “Cigarettes & Alcohol” e “Slide Away” seguiram-se aumentando o meu estado de catatonia. Eu não tinha dinheiro, autonomia, liberdade, a menor idéia de quem era e o que seria da vida, mas toda noite em que eu deitava no chão da sala, olhando para o teto “in my mind my dreams are real / Now you concerned about the way I feel / Tonight, I’m a rock ‘n’ roll star”.

Rodrigo Levino é um dos novos expoentes do jornaliRmo cultural, o homem que dá mais notícias sobre literatura em seu Twitter que todos os jornais juntos. É repórter de Cultura da Veja.com

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